Raimundos driblam a crise da indústria fonográfica com cerveja artesanal

 Raimundos driblam a crise da indústria fonográfica com cerveja artesanal

André Molina reportagem

Digão, que lidera a banda Raimundos (grupo que construiu a identidade do rock nacional na década de 1990 ao misturar forró com punk rock) esteve em Curitiba, no último feriado de Carnaval, para apresentar canções consagradas do grupo no Sebas Rock Bar. Ele esteva ao lado da banda curitibana Válvula Vapor, que se apresentou ao lado do Fourface. Na passagem de som, Digão bateu um papo com o sinnersrockbeer sobre a iniciativa do Raimundos de lançar uma cerveja artesanal.

Como foi a ideia de utilizar a marca da banda para lançar uma cerveja artesanal?

Não sei se foi o Caio. A Bamberg entrou em contato com a gente e veio com esta ideia de lançar a cerveja. O Caio é o alcoólatra da banda (rsrs). Estou brincando! Mas ele gosta muito. Aí já estava rolando a do Sepultura. E achamos muito bom o Raimundos ter uma cerveja e a Bamberg fez uma proposta muito legal, tanto de trabalho como de qualidade, e manifestamos como queríamos a cerveja. Não desejávamos uma cerveja só para cervejeiro. Com sabor mais acessível, como o Raimundos é. Pesada, mas acessível. Então com a Helles conseguimos chegar neste formato que agradava todo mundo. Mulher, cervejeiro e todo mundo que curte cerveja. Inclusive ela ganhou em 2015 o prêmio em Blumenau como a melhor cerveja na sua categoria.
A cerveja está desde 2014 no mercado. Foi quando começou esta brincadeira da cerveja.

Após o Raimundos ingressar no mercado de cerveja muitas bandas se inspiraram na mesma iniciativa

Deu uma popularizada boa. Inclusive existem bandas que fazem a própria cerveja como a Velhas Virgens, o Wander Wildner também faz. Tem um pessoal que curte fazer a própria cerveja. Nós deixamos. Preferimos deixar para quem sabe fazer.

A questão da fabricação da cerveja e do merchandising de camiseta tem a ver com a dificuldade atual de vender discos?

É uma alternativa. Porque você não pode barrar a tecnologia. A tecnologia veio para ficar e eu faço parte dela. Eu não tenho mais nenhum disco, por exemplo. Nem do Raimundos eu tenho. Já dei tudo. Tudo o que eu gosto está no meu celular. Todas as músicas estão lá. Eu não mexo muito com Spotify. Ainda não tenho muita essa cultura. Eu gosto de ter o arquivo no meu celular. Já o lance da camiseta é uma alternativa para o fato de não vender mais CD. A gente trabalha muito a parte do merchandising. Eu estou com a Santa Costa criando uma linha de camisetas do Raimundos que está na nossa loja.

O Raimundos ainda pensa em gravar discos?

Não sei se a gente vai fazer disco com 12 faixas. A relação dos jovens hoje com a música mudou completamente. Até as bandas grandes também estão sofrendo. Eu vi pelo último disco do Red Hot Chili Peppers, que só tocou uma música. Eles gastaram uma fortuna para fazer este disco. Hoje é melhor fazer single. A forma no Brasil de trabalhar mudou e não podemos deixar de acompanhar isto. Acredito que fazer um CD completo atualmente é um gasto de dinheiro que não sobra para divulgar. E hoje é dispendioso para divulgar. Estamos focados nas mídias sociais e devemos gravar cinco músicas. Mas vamos ver lá na frente porque neste ano vamos trabalhar o acústico, que vai entrar no Multishow e ter o acesso. Normalmente é só a galera que curte, que corre atrás e tem. O povo hoje é muito preguiçoso. Tem que jogar dentro da casa deles. E nosso acústico ainda não foi jogado na casa das pessoas. E este ano ainda vamos trabalhar, sendo que é ano de eleição e Copa do Mundo. Então é difícil.

Mas a agenda de shows é grande…

Show está ótimo. Estamos com agenda até outubro.

Digão gostaria que você falasse da missão de assumir o posto de vocalista já que o Raimundos no fim da década de 1990 tinha um cantor consolidado

Foi muito difícil porque foi uma decisão repentina e sem ser pensada. Aconteceu do dia para a noite e tomamos a decisão do melhor caminho em uma situação de emergência. Mas foi boa a alternativa porque não perdemos a cara do Raimundos. Colocar uma pessoa que não tem nada a ver e sair para procurar outro é muito complicado. Foi mais fácil achar alguém para me substituir na guitarra do que um frontman que seria a cara da banda. Eu e o Canisso sempre fomos a cara do Raimundos. Isto ajudou muito. Não era só o Rodolfo. Era eu, o Canisso. Todo mundo no Raimundos era conhecido. Não é uma coisa muito fácil. Acabou ajudando. Mas sabia que seria um caminho demorado até a banda se reposicionar.

E fora a saída do Rodolfo do Raimundos teve a mudança do mercado fonográfico que já comentamos…

Além do problema interno da banda, tiveram os problemas externos com o fim do mercado. Em 2001 foi realmente a época em que acabou o mercado de venda de discos e gravadora. As gravadoras não tinham ainda “se tocado” que deveriam ter mudado o jogo logo e partir para o que é hoje. Muitas gravadoras encolheram e fecharam.